A utilização da ADF – Areia Descartada de Fundição como agregado na construção civil é atraente do ponto de vista econômico e proteção ao meio ambiente, justificando investimentos em alterações de processos e substituições de matérias-primas. As areias de fundição representam um dos resíduos sólidos industriais com maior volume de produção. Somente no Brasil são gerados cerca de 3 milhões de toneladas por ano. A maior parte destes resíduos é disposta em aterros industriais, com custos para os geradores e impactos para o meio ambiente (Carnin, 2008).
Nessa óptica surgem as alternativas para minimizar desde a quantidade gerada até seus possíveis efeitos decorrentes de uma disposição no ambiente. Avaliações ecotoxicológicas, que envolvem a caracterização da toxicidade da ADF sobre organismos vivos presentes no ambiente pode ser considerada uma ferramenta capaz de trazer informações relevantes no que diz respeito ao seu uso em solos, como por exemplo no reforço de subleito e base de rodovias.
O objetivo desse estudo é apresentar os resultados das análises dos ensaios de ecotoxicidade aguda e crônica com ADF. Para isso, foram utilizados como organismos-alvo espécies de diferentes níveis tróficos dos ambientes aquático (microcrustáceos, algas e peixes) e terrestre (microorganismos e anelídeos).
Toxicidade é a propriedade inerente ao elemento ou substância que provoca lesão ou danos nos organismos. A realização das análises ecotoxicológicas tem como objetivo identificar qual a grandeza das substâncias químicas nocivas, quando isoladas ou misturadas, para conhecer os condicionantes e locais de seus efeitos (Knie et al, 2004). Na Ecotoxicidade Aguda, a substância causa dano ou morte em curto espaço de tempo após contato com os organismos acompanhados. O efeito agudo é um estímulo do agente tóxico, suficientemente capaz de induzir uma resposta em organismos vivos, após um curto período de exposição a esse mesmo agente. O estímulo se manifesta em um intervalo de 0 a 96 h. Normalmente o efeito é letal, representado por uma interrupção no desenvolvimento do organismo.
Para o estudo, foi selecionada a amostra na forma de ADF, proveniente do processo de desmoldagem de uma fundição da região de Joinville, considerada representativa para a avaliação da ecotoxicidade. Foi realizada a identificação de perigos, com base nas informações e laudos de análise de classificação ABNT 10004:2004, do resíduo de ADF. Considerando-se o potencial de periculosidade do resíduo e as informações sobre os limites ecotoxicológicos, foram avaliados os potenciais riscos para as seguintes aplicações: Artefatos de concreto, base, sub-base e reforço de subleito, além de assentamento e recobrimento de tubos da rede de esgoto.
De acordo com os resultados obtidos, a amostra de ADF avaliada foi classificada como Resíduo Classe II A – Resíduo Não Inerte e Não Perigoso, com parâmetros orgânicos e inorgânicos abaixo dos limites de concentração estabelecidos pela NBR ABNT 10004:2004. Não foram observados efeitos adversos nos organismos e microrganismos de solo do estudo na exposição à ADF, havendo ainda a provável redução da disponibilidade química dos componentes nas condições de uso previstas. Os resultados dos ensaios ecotoxicológicos indicaram baixo potencial de toxicidade para espécies aquáticas expostas à fração solúvel da ADF, mesmo nas concentrações mais altas, as quais dificilmente ocorreriam nas condições ambientais, já que se espera a redução considerável da disponibilidade química dos ingredientes nos artefatos de concreto, base, sub base e reforço de subleito, bem como assentamento e recobrimento de tubos da rede de esgoto em relação à ADF, e, portanto, que o potencial de migração dos componentes seja inferior àqueles observados no ensaio de lixiviação e na obtenção da fração solúvel.
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